Páginas

sexta-feira, novembro 18, 2011

Fluminense nato, por Machado de Assis



Por Renato Melón (ou Machado de Assis)

Ora, creio haver sido um erro deveras caótico o fato do esporte bretão não ter sido uma febre no Brasil até o ano de 1908, ano este no qual deixei o mundo terreno, juntamente com suas contradições. Contudo, supreendi-me ao mo encontrar aqui neste recinto divino, para onde me levaram ,um amor tão eterno quanto a um tal clube chamado Fluminense.

Confesso-lhes que, primacialmente, lembrei do velho folheto no qual costumava escrever minhas idéias, "A Marmota fluminense". Deveras, parecia que eu já, àquela época, sentia algo fino de paz, esperança e vigor. O adjetivo FLUMINENSE já se mo demonstrava algo.

Sem embargo, não considere isto que vos escrevo, agora, tal qual uma 'memória póstuma'! Isto é coisa de morto morrido; eu não morri. Estou tão vivo quanto os olhos de Capitu e a desconfiança de Bentinho.

***

Para surpresa, ao chegar aqui neste lugar curioso, azul e cheio de nuvens, encontrei-me em meio a uma intrépida discussão entre Nelson Rodrigues e José Lins do Rego: falavam de um tal de "Fla x Flu". A priori, pareceu-me algo relacionado a uma alcunha... O que me parecia, todavia, era que estavam discutindo se determinado lance havia sido pênalti, sendo que o desportista que caíra na grande área haveria de ter sido expulso num lance anterior, haja vista o juiz não ter visto a situação, o que causara uma severa injustiça à equipe rubro-negra... Estava tudo tão chato que deu até vontade de voltar para o Rio de novo.

Não obstante, após as célebres argumentações do dramaturgo de "Vestido de Noiva", creio que entendi o germe de todo o mal, no Céu ou na Terra, para um ser humano: um outro como ele.

Às vezes, infelizmente, a convivência é uma guerra diária de egos, que nos faz esquecer do que realmente imorta. Que faríamos, pois?

Ora, simples: como disse, certa vez "

"Suporta-se com paciência a cólica dos outros."

***


Que falemos de Fluminense!

Estava a folhear algumas obras; e encontrei-me um Brás Cubas revelando, de plano, a fibra do Fluminense Football Club:

"- Não sei; vou meter-me na Tijuca; fugir aos homens. Estou envergonhado, aborrecido. Tantos sonhos, meu caro Borba, tantos sonhos, e não sou nada." (...)

Mas logo, lembra-se ele:

"A vida sem luta é um mar morto no centro do organismo universal.".

O Fluminense sempre está onde menos esperamos; mas onde sempre é esperado: no sencilho realismo da irrealidade onírica... (segundo Tom Jobim, do meu lado aqui, isso daria Bossa Nova).

Enfim, dizem que o própro Brás Cubas inaugurou o que se resolveram chamar de Realismo, no Brasil - pelo menos é o que andam falando por aqui, que andam cobrando minha obra num tal de "Vestibular". No entanto, isso não tem valor para mim.

É insignificante frente a tudo que me fez escrever e sentir.

A única realidade é que eu era Fluminense.

Melhor seria se eu fosse chamado, ao invés de "Bruxo do Cosme Velho", "Bruxo das Laranjeiras", bairro do Tricolor.

Contudo, não há problema. Só caminhar a Rua das Laranjeiras e, em alguns minutos, chego à Pinheiro Machado com a Álvaro Chaves, no Manoel Schwartz , com seus pilares e sorrisos tricolores.

Esta Rua das Laranjeiras era meu caminho ao mais belo romance já criado no universo, romance este sem autor, sem egos, sem "eus". Romance este com protagonistas, sonhos e "Nós".

Romance este que nunca terá fim, pois enquanto verdadeiro for o sentimento... Como escrevi, certa vez, ao ver Carolina num crepúsculo na Urca:

"Cada qual sabe amar a seu modo; o modo, pouco importa; o essencial é que saiba amar."

Nenhum comentário:

Postar um comentário