terça-feira, agosto 28, 2012
Arquibancadas vazias
O Fluminense venceu o Vasco no sábado passado, 2 x 1 no Engenhão. O borderô indicou 9.729 pagantes, mais uns 4 mil por fora.
No dia seguinte, domingo, Flamengo e Botafogo empataram em 0 x 0 para 15.090 pagantes (destes, 90% rubro-negros).
A soma dos dois jogos totalizou 24.819 torcedores dispostos a pagar para ver os quatro grandes times de futebol do Rio de Janeiro.
Detalhe: o Fluminense, assim como o Vasco, briga pelo título ou uma classificação à Libertadores (tricolor não comemora antes da hora).
Também no domingo, o São Paulo derrotou o Corinthians por 2 x 1, jogando no Pacaembu, com 34.843 pagantes, 40% a mais de torcedores do que a soma dos times cariocas na rodada.
Cruzeiro e Atlético empataram em 2 x 2 no Independência, com “apenas” 17.901 pagantes – e digo com aspas porque resolveu-se permitir apenas a torcida cruzeirense no estádio, visando segurança.
Os números acima apenas demonstram que, apesar da clara influência da televisão no processo, os preços caros, a questão da violência (problema nacional que, se bem conduzido pela ação policial, dará resultados positivos – e precisa de vigorosa ação já), os horários inoportunos e tantos outros fatores desagradáveis que tiram das arquibancadas brasileiras o público devido, há um problema ainda mais sério quando se trata de futebol carioca.
Ressalte-se: em tempos idos, o público presente do Rio de Janeiro sempre foi bem maior do que o de outros estados brasileiros. Também havia transtornos, talvez menos violência, mas o resto quase sempre esteve a postos.
O fato é que, por decreto, o Maracanã sumiu pela “grandiosidade da Copa de 2014” e uma tradição sexagenária foi posta abaixo. Filhos, netos e bisnetos foram criados no estádio e então a força da grana deu-lhes sentença, “Mudem para outro lugar!”. Daí, o Engenhão não caiu nas graças da torcida carioca – quando houve motivação, aí foi a bisonha administração alvinegra a agir, vide a decisão do campeonato estadual deste ano com uma arquibancada inteira completamente vazia: por conta dos desvarios do Sr. Assumpção, a torcida do Fluminense ficou de fora do jogo do título enquanto o “mar azul” prevaleceu do outro lado.
Hora das autoridades do futebol carioca buscarem mobilização.
O Engenhão não é longe.
É apenas ruim. E frio. E distante da atmosfera do Maracanã. As obras eram necessárias? Pelo dinheirão gasto, seria fácil construir outro estádio em outro lugar e deixar o Maracanã como a grande tradição do futebol brasileiro. O fato é que explodiu-se um comportamento de uma hora para outra e fica claro que o público rejeitou o procedimento.
Some-se a isso todos os outros fatores abomináveis e temos um final de semana de confrontos dos times cariocas com público típico do campeonato brasiliense – com todo respeito aos do Distrito Federal, limito-me a comparar estatísticas.
O futebol brasileiro chegou onde chegou por conta da paixão, dos grandes jogos e dos grandes públicos presentes às arquibancadas. Se os tempos modernos vieram para mudar este cenário, entende-se. Agora, é incompreensível que uma paixão nacional seja tratada como um produto degradado, desinteressante, incapaz de atrair gente – o que sempre foi sua vocação por décadas.
Não existe futebol sem o outro. Os quatro grandes times são essenciais à história do futebol carioca – tudo bem, a imprensa convencional finge que só existe um, mas ainda não inventaram jogo de futebol com um só time, sem adversário.
Aos poucos, os meninos vestem camisas do Barcelona, do Milan, do Real Madrid, agora do Paris Saint Germain, e as arquibancadas do Rio vivem o “mar azul”.
Quando garoto, por hobby, muitas vezes eu assisti jogos dos outros times. Numa rodada do fim de semana como esse que passou, lá pelos anos 70, 80 e 90, possivelmente eu teria visto o Fluzão no sábado e voltaria para dar aquela “força” ao Botafogo no domingo (tenho muitos amigos alvinegros, gosto de futebol, acho inacreditável quando alguém vai ao estádio e não torce por ninguém).
Não custa lembrar: a televisão não vê o futebol como fruto da paixão nacional, ela tão-somente tem às mãos um produto altamente lucrativo e, se as arquibancadas estiverem desertas, melhor para ela – tem mais gente ligada em frente às telas. Hoje, a TV tem os clubes na mão, por conta das desastradas administrações que pegaram adiantamentos das transmissões por anos a fio.
Nosso futebol não retomará os caminhos do passado com arquibancadas vazias, sejam os estádios com capacidade para 70, 50 ou 20 mil pessoas.
O novo Maracanã começa com uma péssima herança: a do afastamento do público.
Futebol profissional não é molecagem. É preciso agir. Agir contra a violência, agir para trazer o torcedor de volta através de todas as intervenções possíveis em termos de transporte, custo, facilidades, incentivos.
Antes que seja tarde.
Paulo-Roberto Andel
Gentilmente cedido por Panorama Tricolor/ FluNews
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