Por volta das 17:00 de terça-feira a diretoria do Fluminense, enquanto torcedores já se aglomeravam nas filas em diversos pontos de venda, finalmente divulgava preços de ingresso e pontos de venda.
Uma atitude vergonhosa de quem, no mínimo, deveria tê-lo feito com antecedência. Era só o começo do caos.
Nossa equipe esteve presente em Niterói, na rua São João, e no Engenhão acompanhando o roteiro de sofrimento e terror de quem deveria ser tratado com carinho pelo clube e, no mínimo, com respeito pelas autoridades.
Chegamos por volta das 16:00 no ponto de venda da rua São João, em Niterói, quando os próprios torcedores tentavam se organizar, fazendo lista de chegada. Pouco antes da hora marcada para o início da venda, no entanto, um policial, não identificado, vaticinou:
“Nada de listinha, nada de ordem. Isso aqui é venda de ingressos, nao eh showzinho. O método é chegada. Quem chegar primeiro lá na frente compra. Não interessa a hora que chegou. Se chegou ontem ou às 8 da manha de hoje.”
Foi a senha para o começo da desordem. Pessoas furavam a fila, tumulto, brigas, pessoas passando mal sem receber qualquer atendimento das autoridades e venda lenta, ocasionada pela burocracia e a descabida exigência de apresentação de CPF.
Na hora do almoço as vendas ficaram suspensas por cerca de uma hora, enquanto as pessoas ficavam espremidas nas filas, após chegarem com até 24 horas de antecedência ao local, com baixíssima perspectiva de adquirir o ingresso. No final da tarde, torcedores relatavam que pessoas tinham seus ingressos roubados. Aonde estava a polícia?
No Engenhão a bagunça foi a tônica desde a noite de terça-feira, quando, sem qualquer presença policial, pessoas aproveitavam os momentos de descontração para invadir as filas e prejudicar aqueles que chegaram mais cedo.
Um pouco antes do início das vendas, havia duas filas na boca da bilheteria. Torcedores protestavam, denunciando que uma fila com cerca de 50 pessoas era composta por cambistas. Procuramos policiais que organizavam a fila e fomos informados que se tratava de pessoas que estavam logo no começo da fila e foram reorganizadas. Na verdade, alguns poucos torcedores que fizeram plantão em frente à bilheteria do setor sul, se misturavam com dezenas de cambistas. Mal começou a venda, a fila alternativa começou a andar. Os primeiros trinta minutos de venda foram prioridade da fila especial que aumentara consideravelmente, sob protestos de torcedores que estavam na fila oficial. Muitos deixaram a fila para pressionar a polícia e denunciar os cambistas, que, apesar da exigência do CPF, transitavam de um guichê para outro, sem serem molestados. A pressão dos torcedores só não se transformou em um conflito maior porque os policiais passaram a reprimir a vergonhosa ação dos cambistas.
Quando finalmente liberaram a fila oficial, começou a lentidão. Cambistas tentavam, na cara dura, invadir a fila, em grupos e individualmente, sendo reprimidos por um grupo de torcedores que passaram a fiscalizar a fila e reprimir os cambistas, incentivando os outros a denunciar os invasores. Só então a polícia, que só marcava presença nos primeiros 100 metros de fila, acorria para reprimir os espertalhões, que ameaçavam os torcedores, que não se intimidavam.
A essa altura, já fora anunciado que haveria vendas também na bilheteria norte, prejudicando muitos torcedores que ficaram na fila desde o dia anterior. Além disso, além da exigência do CPF, que não conseguimos apurar se valeu em algum momento, pois por volta das 12:30 comprávamos nosso ingresso sem qualquer exigência de documentação, as informações sobre a quantidade de ingressos por torcedor era desencontrada. Se a informação oficial dava conta de que somente dois ingressos poderiam ser adquiridos por pessoa, por volta das 12:30 era possível comprar três ingressos.
Antes disso, porém, por volta das 11:30 cambistas já ofereciam ingressos impunemente aos torcedores que chegavam.
Por volta das 13:00 um episódio chamou a nossa atenção para o verdadeiro pastelão que se tornou a venda de ingressos. Em alguns guichês os funcionários informavam que não havia mais bilhetes para o setor oeste superior, enquanto em outros os ingressos para o setor eram adquiridos normalmente. Enquanto isso, uma nova fila, dessa vez para idosos, que tem direito a gratuidade, contava com algumas dezenas de pessoas e tinha preferência para a compra, embora nem todos fossem idosos.
Em Niterói também, em que pese a gratuidade, havia fila de idosos, que compravam ingressos e voltavam para a fila para comprar mais.
O responsável pelo projeto Tricolor Solidário, Hugo Ottati, nos fez um relato dramático do que foi a venda no HSBC Arena, na Barra da Tijuca.
Hugo relata que desde a 00:00 as pessoas já ligavam para as autoridades solicitando a presença de policiais, já que havia pessoas idosas na fila e a aglomeração aumentava a cada instante. Apesar disso, policiais só chegaram ao local de manhã.
Além de sofrer ameaça de morte na fila de um outro torcedor nas barbas dos policiais, foi impedido de comprar mais de um ingresso, para seu pai, porque não portava o CPF do mesmo, sendo que a informação não fora divulgada com antecedência e era ignorada pelas pessoas que marcaram seu lugar na fila desde a terça-feira.
A regra, pelo visto, era questão de interpretação e conveniência de cada um, de acordo com o momento e lugar.
O Lacenet publicou matéria denunciando o esquema de comércio paralelo de ingressos, mostrando que os cambistas estão longe de agirem individualmente. O esquema envolve pessoas influentes e os mesmos sequer precisam entrar na fila para adquirir o produto. Segue o link da matéria:
Ficamos, diante dos relatos, que não são poucos, a nos perguntar: até quando?
Fonte: Fluminense & Etc

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